Quem vive consciente, vive melhor
Por Angelo Marion
Psicanalista e Policial Rodoviário Federal
www.angelopsicanalise.com
Temos campanhas para conscientização ambiental, para a conscientização sobre a segurança no trânsito, sobre a prevenção do câncer de próstata, sobre o plano estratégico de uma instituição, enfim, é notória e aceitável a necessidade de buscar-se trazer à consciência das pessoas temas e fatos importantes para a convivência social e a sustentabilidade.
Então, quem vive consciente, vive melhor. Mas o que é viver consciente?
Em termos de convivência social, sustentabilidade e interesses difusos e coletivos, fica claro que, ao resgatarmos a informação e decidirmos agir de acordo com essa realidade agora consciente, a qualidade de vida e os valores em questão serão preservados, proporcionando a melhor realização e o usufruto dos benefícios adquiridos após a conscientização.
Mas como funciona a conscientização em relação à própria história, às necessidades individuais, ao que já foi realizado e à qualidade de vida a que se tem direito quando agimos nesse sentido?
Essa conscientização que adquirimos sobre o meio ambiente ou a segurança no trânsito é processada da mesma forma que a conscientização sobre nossas necessidades mais íntimas, nossos anseios mais satisfatórios? Enquanto essas necessidades e anseios são coincidentes com aquilo que se aplica à coletividade, sim, o processo é o mesmo.
Entretanto, quando o que se busca é algo que pode não coincidir com o que interessa ao coletivo, ou que seja tão pessoal que pouco se percebe da compatibilidade entre os interesses de cada um, temos oportunidade para a Psicanálise, que visa proporcionar ao cliente ou paciente a possibilidade de perceber o que esteja no seu inconsciente e que influencia seu cotidiano, sua vida, numa perspectiva de um sofrimento que conduza ao desejo ou necessidade de melhora diante da queixa, pois alguns fatos da interação com o inconsciente não são um problema, e sim composição do aparelho psíquico humano, como já advertiu Freud.
Assim, ilustrando um caso clássico da literatura psicanalítica, uma pessoa que na tenra infância sofre uma agressão ou um trauma afetivo numa determinada circunstância, quando adulto, vai agir dentro do padrão que vivenciou na infância, com medos e ansiedades pertinentes. Porém, isso ocorrendo já numa fase da vida que exige decisões maduras e objetivas, ou seja, onde não cabe a influência do fato ocorrido na infância, tem-se uma queixa, um sofrimento.
Nessa ilustração, a Psicanálise é a técnica utilizada pelo terapeuta para auxiliar o paciente a perceber, hoje, adulto, a influência desse trauma do passado na sua vida atual, ou seja, tornar consciente, hoje, um fator ocorrido na infância que provoca a queixa no presente.
Certo, a pessoa agora sabe que o comportamento medroso e ansioso que vivencia hoje tem por causa o trauma vivenciado na infância. E agora?
A Psicanálise não tem a pretensão de eliminar um trauma, ou de adequar automaticamente um comportamento, até por que existem traumas que não são superáveis. Não se trabalha também com a motivação, ou mesmo questões neurolinguísticas.
Bem, a Psicanálise proporciona que o paciente tenha consciência da influência de um trauma, e, sendo mentalmente saudável, esse paciente poderá decidir qual a atitude deve adotar ou qual postura será a melhor diante do trauma, que sempre foi real e agora é conhecido: superar, contornar, conviver ou suportar os efeitos da vivência traumática. É uma terapia de enfrentamento.
O psicanalista não constrói a queixa do paciente, e sim ouve o que ele tem a dizer. Também não recomenda um comportamento, e sim dá espaço às decisões do paciente. Não dá um diagnóstico, acolhe. Não julga, aceita o paciente. Essas são algumas das características da Psicanálise que a diferencia de outras técnicas e abordagens.
Assim, viver consciente é conhecer a si mesmo, reconhecer as qualidades como direito das pessoas e os “defeitos” como uma oportunidade de ser melhor como pessoa. É aceitar que todos temos uma polarização entre o perfeito e o caos, e Freud chamaria isso de ambiguidade.
Viver consciente é viver em plenitude, e engana-se quem percebe a plenitude como algo puramente bom e agradável. A Psicanálise permite isso, conhecer-se a si mesmo, em sua plenitude, e decidir no sentido saudável, onde a paz e a satisfação pessoal é posta como premissa de toda experiência, pois passa-se a ter consciência de si mesmo, por isso, quem vive consciente vive melhor.
Nesse caminho, pulsões e instintos serão conhecidos ou reconhecidos pelo paciente, sendo necessários para o equilíbrio entre as necessidades, satisfações pessoais e da vivência social. É necessário um trabalho de amadurecimento e informação sem referências de outros, apenas respeitando a história de cada um, com suas vitórias e derrotas. Mas isso é assunto para um próximo encontro.