Publicada aposentadoria do PRF Angelo Marion

Publicada aposentadoria do PRF Angelo Marion

  No último dia 08 de setembro, foi publicada no Diário Oficial da União, a aposentadoria do nosso colega PRF Angelo Marion, da Turma de 2004, lotado na 8ª DelPRF de Cachoeira Paulista.
Confira a entrevista que fizemos com o PRF Marion, que nos falou um pouco sobre sua experiência na PRF, bem como sobre suas expectativas e planos futuros.

 SINPRF-SP – Temos a certeza de que nesses anos de PRF muitas experiências foram adquiridas. Conte-nos um pouco sobre essas experiências e como a instituição impactou a sua vida.

  PRF Angelo Marion – Tive a oportunidade de vivenciar dois cenários interessantes logo no início da carreira. Fui lotado em São Borja/RS, onde o posto fica a 5 Km da fronteira com a Argentina, trecho extenso, pista simples e sem concessão de rodovia, ou seja, fazia-se de tudo e percebi o valor que a PRF tem para os cidadãos que moram ou transitam nos rincões do Brasil. Depois fui removido para São José dos Campos/SP, via Dutra, ou seja, eixo rodoviário e econômico do país, com uma outra percepção da importância da PRF na segurança pública e na economia. Os colegas de São José brincavam que no primeiro mês eu utilizava a passarela para cruzar a pista… (risos). Na minha vida ingressar na PRF foi uma oportunidade maravilhosa, estava como 2º Sargento da FAB, o salário dobrou e conheci um ambiente de trabalho perigoso, porém que permite uma atuação mais livre e eficiente, pois na pista o PRF chega para resolver da melhor maneira possível. A “soberania da pista” é imprescindível, quer dizer, a avaliação do PRF que está na ocorrência, dentro da legalidade, claro, tende a ser a melhor, pois a própria integridade está em jogo. Pra quem veio do meio militar, trabalhar assim foi, com a responsabilidade proporcional, muito gratificante.

  SINPRF-SP – Os Policiais Rodoviários Federais deparam-se diariamente com situações extremamente estressantes, porém também muito gratificantes. O grande desafio é como se manter equilibrado diante desse estresse. Como você equilibrou esses momentos em sua vida?

  PRF Marion – Foco e ponderação de interesses. É necessário reconhecer limites. Algumas vezes arriscamos a própria integridade além do necessário, mas a prioridade segurança pessoal, segurança do cidadão e do patrimônio permite que atuemos de forma útil, de onde vem a gratificação. Pôr o pé na pista e abordar uma carreta de 50 toneladas, sinalizar à noite num acidente ou combater diretamente a criminalidade já é um risco fora da curva por si só, é estressante, e o foco com prioridades dá caminho para sabermos que, mesmo não sendo o resultado ideal, o resultado possível foi obtido. O PRF é um profissional que trabalha com fé, mesmo que seja ateu, pois não se pode prever a reação de um condutor assustado e não vem escrito na testa do abordado se é criminoso ou não. Ainda, o juramento diz que colocamos a própria vida a serviço da sociedade, quantas profissões você conhece com esse juramento?

  SINPRF-SP- Ser um servidor público é acima de tudo servir à sociedade. Como você se sente em ter cumprido sua missão na PRF?

  PRF Marion – Satisfeito e grato. Na educação para o trânsito desde 2005 pude entender a importância da PRF não só na sociedade, mas na vida de cada cidadão. Difícil mensurar, mas se salvamos uma vida com as ações de educação, já valeu a pena. Tive a oportunidade de atuar na atividade operacional e na gestão, e percebi que os próprios colegas fazem parte dessa sociedade, ou seja, também merecem respeito e tratamento objetivo pelos gestores, ou seja, tem um problema resolva, e se resolveu, vida que segue. Tenho a percepção que, na pista ou na gestão, cheguei próximo de ser uma pessoa justa. Quando gestor, participei da prisão preventiva de um colega numa manhã, e somente deixei de acompanhá-lo perto de meia-noite, quando conseguimos um encarceramento da própria instituição. Ora, se o malfeitor tem direito de ser tratado com dignidade, por que o PRF não o teria? Por isso estou satisfeito e grato no cumprimento da missão.

 

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  SINPRF-SP – Neste período de profundas mudanças que nossa sociedade vive, um número maior de pessoas passou a refletir sobre os valores nos quais estamos alicerçados. Para você, qual valor foi imprescindível para a sua carreira na PRF?

  PRF Marion – Entendo que não há um motivo apenas para decisões nem um valor só para condutas e sim fatores preponderantes. No que seja legal não há muito o que dizer, cumpra-se. Entretanto, a dinâmica do nosso serviço exige constantemente interações onde tomam-se decisões e atitudes sequenciais. Nessa visão, foi imprescindível perceber a visão ou situação do outro. Utilizar o poder atribuído é bom e faz bem, apenas devendo ser lembrado que o poder não é seu, e sim lhe foi dado. Isso pode traduzir uma visão ética. Outro ponto foi entender que o coleguismo e a luta da classe são fundamentais em todos os âmbitos, desde a diretriz da alta gestão até a segurança do PRF na atividade fim. Pertencer a um cargo único sem dúvida é um diferencial que reflete nos valores de cada PRF e da instituição. Isso traduz um valor de fraternidade. Todas decisões que tomei na minha vida, nem todas acertadas, foram por iniciativa, vai-se à luta com suas consequências. Veja, vários fatores permitiram que eu aposentasse agora, decisão do TCU, movimento sindical, viabilidade da gestão e um fator que só dependeu de mim nesse contexto: trabalhei desde os 15 anos de idade. Não sabia que esse fato ajudaria hoje, mas fui à luta. Isso traduz boa vontade. Essas circunstâncias sempre exigiram uma atenção, pois o que é perseverança pode ser teimosia, o que é autoconfiança pode ser vista como arrogância, mas tudo bem, creio que o saldo seja positivo (risos).

  SINPRF-SP- Com a aposentadoria novos caminhos surgem. Quais são os seus planos futuros?

  PRF Marion – Inicialmente descansar, curtir mais a família e rever familiares distantes. Depois é incrementar o atendimento como Psicanalista, inclusive com uma atenção especial aos profissionais de segurança pública, contribuindo para que possamos encontrar o equilíbrio afetivo e emocional diante dessa atividade tão gratificante e ao mesmo tempo tão exigente. Em breve, vou lançar-me na realização de um sonho antigo: a advocacia. Tenho aprovação na OAB desde 2001, mas como militares e policiais são legalmente impedidos de retirar sua “carteira” da Ordem, vou fazer isso agora. Também vou dedicar-me a palestras, que trazem um retorno pessoal gratificante. Mas tudo com calma e equilíbrio.

  SINPRF-SP – Qual mensagem você deixa para os PRFs que estão ingressando na instituição?

  PRF Marion – Bem-vindos à melhor instituição pública do Brasil! Fizeram por merecer! Entendam sempre que a contribuição do PRF é salvar vidas, seja prevenindo acidentes ou combatendo a criminalidade. Não esqueçam que o colega ao seu lado conta com você na mesma medida que você conta com ele, pois é a vida de ambos que está exposta. Sejam gestores após a experiência da pista. É bom ser chefe, e assim terão a oportunidade de tentar fazer tudo aquilo que conversam durante as rondas tranquilas. Se forem alçar voos maiores, sucesso! Apenas lembrem-se que o profissional que vocês são aqui, serão lá. Então não é útil prejudicar a si mesmo ou ao serviço na expectativa de uma mudança profissional. Digo isso pois tive a benção de não ter punições militares ou disciplinares. Cuidei para que isso fosse assim quando decidi deixar a FAB. Frequentemente a sociedade não reconhece nosso trabalho, mas ela não tem essa obrigação. O reconhecimento, além de fatores institucionais e materiais, deve vir de si mesmo e dos colegas. Grato, à disposição e sejam felizes!

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